A esteatose vem se tornando uma doença do fígado cada vez mais conhecida da população em geral. Esse fato se deve à maior disponibilidade para realização de ultrassonografias de abdomen, exame de imagem que pode mostrar a esteatose e tem sido realizado com frequência em avaliações clínicas de rotina; e a crescente prevalência da obesidade em todo o mundo, que é uma das suas principais causas.
A esteatose hepática é classificada em dois grandes grupos: causada pelo consumo excessivo e crônico de bebidas alcoólicas; causada por outros fatores de risco e denominada Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA), que será o objetivo principal dessa abordagem.
Esteatose caracteriza-se pelo acúmulo excessivo de gordura (lipídios) nas células do fígado, denominadas hepatócitos. Essa pode permanecer estável por muitos anos, e até regredir se suas causas forem controladas. Caso contrário, a doença pode evoluir para a esteatoepatite. Nessa fase a esteatose se associa à inflamação e morte celular, fibrose (cicatrização) e tem maior potencial de progressão ao longo dos anos para cirrose e para o carcinoma hepatocelular (CHC) ou câncer de fígado.
A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) inclui todo espectro: esteatose, esteatoepatite, cirrose e CHC.
Os principais fatores de risco ou causas de DHGNA:
PRIMÁRIOS: Obesidade e sobrepeso com obesidade central; diabetes mellitus; dislipidemia (aumento do colesterol e/ou triglicérides); hipertensão arterial
SECUNDÁRIOS: Medicamentos: amiodarona, corticosteroídes, estrógenos, tamoxifeno; toxinas ambientais: produtos químicos; esteroides anabolizantes; cirurgias abdominais: bypass jejuno-ileal, derivações bilio-digestivas.
Veja algumas doenças que podem ter DHGNA associada: hepatite crônica pelo vírus C; síndrome de ovários policísticos; hipotiroidismo; entre outros.
Obesidade, diabetes mellitus, dislipidemia são os fatores de risco mais frequentes. Esses se associam à hipertensão arterial e à síndrome metabólica, que é caracterizada pela presença de três ou mais das seguintes condições: obesidade central (aumento da gordura no abdômen), hipertensão arterial, dislipidemia e diabetes. A DHGNA é considerada o componente hepático da síndrome metabólica.
A DHGNA é considerada a mais frequente doença de fígado da atualidade. Estima-se que entre 20 a 30% da população em todo o mundo seja portadora da DHGNA. Essa pode ocorrer em homens e mulheres, em todas as idades, incluindo as crianças e adolescentes. Também preocupante é a associação da DHGNA, quando não controlada, com a maior frequência de diabetes e hipertensão arterial e com o maior risco de doenças cardiovasculares (infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral).
A grande maioria dos pacientes não apresenta sinais ou sintomas, pois esta é uma doença silenciosa. É inicialmente identificada porque o paciente realizou uma ultrassonografia de abdômen como parte de seus exames clínicos de rotina ou periódicos. O diagnóstico da esteatose é incidental, isto é, o exame não foi com o objetivo de identificar a esteatose.
Não há indicação ou recomendação para realização de ultrassonografias para a população geral. Para o diagnóstico da DHGNA (esteatose ou esteatoepatite) é importante que os pacientes sejam avaliados em uma consulta médica por um clínico ou hepatologista (especialista em doenças do fígado). Por meio de uma história clínica cuidadosa, serão identificados os fatores de risco primários, secundários ou as doenças associadas. O exame físico deve ser completo e vai avaliar os níveis da pressão arterial, peso e altura para determinação do índice de massa corpórea (IMC), a medida da circunferência abdominal. Quanto maior a gordura no abdômen, maior deve ser o depósito de gordura no fígado ou esteatose hepática.
Depois da avaliação clínica, exames complementares colaboram com o diagnóstico da DHGNA. Esses incluem exames de laboratório (enzimas hepáticas, colesterol total e frações e triglicérides, glicemia, insulina, entre outros), exames de imagem (ultrassonografia de abdômen, tomografia computadorizada, ressonância magnética e elastografia hepática) e em casos selecionados, a biópsia do fígado, único exame até o momento capaz de estabelecer o diagnóstico seguro de esteatoepatite.
A avaliação diagnóstica do paciente deve determinar em que fase da DHGNA o paciente se encontra: esteatose, esteatoepatite ou cirrose e deve também determinar os fatores de risco envolvidos.
É importante o controle da obesidade, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia (colesterol e/ou triglicérides elevados). Manter o controle dessas doenças é fundamental no tratamento da DHGNA. Medicamentos específicos para cada uma dessas condições clínicas pode ser utilizada. Atenção também deve ser dada ao diagnóstico de alterações cardiovasculares, causa importante de mortalidade nos pacientes com DHGNA.
Para esses pacientes mudanças no estilo de vida com alimentação equilibrada e atividade física regular são recomendadas para todos os pacientes. O prognóstico pode ser bom, mas depende da fase em que a doença for diagnosticada e principalmente da aderência dos pacientes às condutas clínicas e tratamentos recomendados.
Fonte: sbhepatologia.org.br